Conheça o movimento que rompeu paradigmas do capitalismo selvagem
CONTEÚDO EXCLUSIVO BBF BRASIL. ACESSE, SIGA & COMPARTILHE
Em 2007, Raj Sisodia (professor de Negócios), Jag Sheth (professor de Marketing) e David B. Wolfe (era especialista em em Comportamento de Mercado e faleceu em 2011) publicaram o livro ‘Empresas Humanizadas’. A obra é importante por dois motivos: rompe paradigmas sobre o capitalismo e abre portas para o surgimento do movimento Capitalismo Consciente.

O livro é fruto de pesquisa sobre grandes empresas conseguiram adotar práticas que tornaram o ambiente de trabalho mais humanizado e consciente com as necessidades das parte que fazem parte de seu ecossistema – os chamados stakeholders, isto é, clientes, fornecedores, investidores, colaboradores, empregados, parceiros, comunidade e sociedade.
Os autores verificaram que essas empresas obtiveram mais lucros por meio de propósitos e fazendo o bem.
‘Empresas Humanizadas’ foi um sucesso de vendas e conquistou entusiastas pelo mundo, inclusive John Mackey, à época CEO da Whole Foods Market, umas das companhias que participaram da pesquisa.
Mackey entrou em contato com Sisodia para amadurecer os conceitos apresentados no livro e juntos criaram o movimento global Capitalismo Consciente. Em 2010 é criado o primeiro Instituto do Capitalismo Consciente (C.C.), nos Estados Unidos.
Foto: divulgação

No Brasil, o livro também foi bem recebido com entusiamo. Em 2013 surge o Instituto do Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).
Mas, afinal de contas, o que é Capitalismo Consciente?
Uma nova ordem mundial?
No mundo prevalecem três tipos de sistemas político-econômicos: capitalismo, socialismo e comunismo. Os dois últimos possuem forte intervenção do governo sobre questões econômicas e à vida em sociedade. O capitalismo é antagônico. Surgiu ao final do século XIX, e seu principal mentor é o filósofo e economista escocês, Adam Smith – considerado o Pai da Economia Moderna e autor do livro ‘Riqueza das Nações’.
Em 1962, o conceito de capitalismo ganha contornos mais radicais com a publicação do livro ‘Capitalismo e Liberdade’, de Milton Friedman (vencedor do Nobel de Economia em 1976), um dos pensadores do Liberalismo. Para ele, a liberdade econômica está relacionada com a liberdade política. O sistema capitalista não pode sofrer interferência de governos, o comércio deve ser livre, a maximização de lucros deve ser obtida a todo custo e as liberdades individuais devem ser respeitadas.
Para Friedman, ‘A Grande Depressão de 1929’, colapso econômico que quebrou os EUA, ocorreu por falhas de governo.

A filosofia liberal (Liberalismo) prega que os indivíduos tenham direitos iguais e igualmente perante a lei. É aí que o capitalismo pode ser uma cruel via, já que deixa claro que não há necessidade de igualdade de riquezas – por isso há desigualdade no mundo: poucas pessoas com grandes concentrações de riquezas e milhões de pessoas ganhando pouco ou passando necessidades.
O capitalismo é tão criticado em muitos países que até ganhou a alcunha de ‘capitalismo selvagem’.
“Não podemos negar que o capitalismo trouxe uma redução drástica de extrema pobreza no mundo todo. Na época de Adam Smith havia 1 bilhão de habitantes e 90% vivia na miséria. Hoje a população é de 8 bilhões e desse número, 900 milhões de pessoas vivem na miséria. É o mesmo número aparente em 240 anos. Então houve evolução sim, mas não devemos esquecer dessas 900 milhões de pessoas. O grande problema [do capitalismo] é que a distribuição da renda mudou significativamente com grandes concentrações de riqueza e muita miséria, explica Hugo Bethlem, Cofundador e presidente do Instituto Consciente Brasil, para o site BBF Brasil durante o Fórum Regional Capitalismo Consciente Cuiabá (MT), realizado no dia 22 de março.

De acordo com Bethlem, o movimento está na contramão do capitalismo atual. O capitalismo consciente promove uma reflexão: no lugar na perseguição do lucro a qualquer preço, as empresas devem ter um propósito, aquilo que explica a razão de existir. Por que a companhia existe? Qual é a dor da sociedade que ela pretende curar com o seu propósito?
“Nesse processo, a empresa faz um contrato social que gera uma razão social. Não é o social com os seus sócios. É o social com a sociedade. Então essa empresa tem de prestar um serviço construtivo, de impacto socioambiental positivo durante o seu processo de gerar riqueza para ela mesma e para todas as partes relacionadas (stakeholders). Se nós trocarmos o foco exclusivamente de maximizaçao do lucro para maximização do propósito, o lucro será consequência. Então é lucro com propósito e propósito com lucro. Não é um ou outro. É essa a nova ordem que a gente quer tentar trazer efetivamente para o mundo dos negócios”, continua ele.
Utopia ou mundo viável?
A história comprova que as doutrinas e as ideologias que aindam permeiam o mundo surgiram como conceitos que foram rechaçados ou até mesmo considerados utopias – um mundo perfeito, porém, inviável. Isso também caberia ao Capitalismo Consciente que surgiu há pouco mais de uma década? É importante ressaltar que o capitalismo, socialismo e o comunismo ainda continuam firmes e fortes porque há governos democráticos e ditatoriais que os adotam e os mantém por meio de leis e políticas públicas.
“Precisamos fazer o ativismo correto lá em Brasília”, analisa Hugo. Em novembro do ano passado, o Instituto Capitalismo Consciente Brasil emitiu uma carta para o governo Lula, vitorioso nas urnas para a presidência da República. O documento traz 10 pontos prioritários para o desenvolvimento econômico, inclusivo e sustentável nos próximos quatro anos.
No dia 09 de janeiro de 2023, o ICCB também se pronunciou por meio de carta aberta aos presidentes dos Três Poderes e à nação brasileira a respeitos dos ataques ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal por manifestantes contrários aos resultados da eleição presidencial, ocorridos no fatídico domingo de 8 de janeiro.

“Nós nos manifestamos sobre as urnas [eleição presidencial 2022], sobre o respeito ao resultado do pleito e nos manifestamos com grande veemência sobre os ataques de 8 de janeiro. Nós nos manifestamos sem nenhuma questão partidária. O movimento é apartidário. Nós respeitamos três pilares: a democracia, a Constituição Federal e a independência dos Três Poderes [executivo, legislativo e judiciário]”, finaliza.
10 anos de Capitalismo Consciente Brasil
Em 2019, o Instituto Capitalismo Consciente Brasil inicia a sua expansão pelo país. “Nosso objetivo era fazer chegar a todas as regiões o conceito de capitalismo consciente. Não é um conceito apenas para as grandes empresas, é também para todos os empresários de todos os setores e de tamanhos de empresas. Empresários que estão começando novos empreendimentos e donos de startups. Esse conceito deveria ser mais difundido”, explica Daniela Garcia, CEO do Instituto Capitalismo Consciente Brasil.
De acordo com ela, um estudo de governança foi elaborado, assim como o desenho de filiais regionais de capitalismo consciente que pudessem trabalhar como franquias sociais, ou seja, pontos estratégicos no país onde pudessem receber empreendedores locais e difundir o conteúdo produzido pelo ICCB.
” As regionais se tornaram pontos de contatos para que a gente pudesse entender formas diferentes de capitalismo consciente. Hoje somam 11 filiais no Brasil todo”, finaliza Daniela.
O ano de 2023 é um marco importante para o movimento. Para celebrar uma década de existência, o ICCB está com agenda de eventos que visam a difusão do conhecimento. Todas as filiais promovem fóruns regionais (confira no Saiba mais).

De acordo com a organização, o objetivo é de dar voz a discussões sobre 10 impactantes desigualdades do país. Em todas as ações previstas haverá uma forte e transversal conexão com o 10º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata sobre a Redução das Desigualdades. O propósito desses fóruns é dar luz às desigualdades que encontradas na sociedade com colaboração da iniciativa privada. Cada filial escolheu uma desigualdade para abordar regionalmente durante o fórum, composto por palestras, talks conscientes, apresentações culturais e workshops.
Fórum Regional Cuiabá
No dia 22 de março foi a vez de Cuiabá (MT) sediar o evento. O site BBF Brasil acompanhou toda programação no Espaço CDL Cuiabá. A Filial do Capitalismo Consciente de Cuiabá escolheu abordar sobre a desigualdade no acesso à Cultura. Pela manhã aconteceram apresentações culturais da dupla de humoristas Nico e Lau e do Circo Intenda; uma série de Talk Consciente, com a mediação de Karine Borges (CEO da filial Cuiabá) e convidados; ainda minitalks com Seneri Paludo (Diretor Executivo da Sicredi Centro Norte, Luize Menegassi (Advogada) e Daniela Garcia (CEO da ICCB); e a aguardada palestra de Hugo Bethlem. O período da tarde foi dedicado aos workshops ‘Jogo do Capitalismo Consciente’ com Gabriel Monteiro, e Workshop regional ‘Desenvolvendo projetos culturais’ com Ulysses Badain.






*Imagens: Bárbara Fontes – BBF Brasil.
Conhecer para julgar
Se você chegou até aqui é bem provável que ainda tenha curiosidade ou busca mais informações sobre o que é capitalismo consciente. Em tempos de notícias e conteúdos falsos com a intenção de denegrir uma ideia ou um movimento social, as pessoas podem se blindar por meio de leituras e ainda se cercar de informações checadas para que possam ter discernimentos corretos.
O BBF Brasil indicará um roteiro de estudos baseado na orientação de Hugo Bethlem, durante entrevista para o site. Confira:

1º- Leitura do livro ‘Empresas Humanizadas. É a obra que deu origem ao movimento global Capitalismo Consciente.

2º- Leitura do livro ‘Capitalismo Consciente’. Obra escrita por John Mackey e Raj Sisodia – fundadores do Capitalismo Consciente.

3º- Leitura do livro ‘Empresas que curam’.

4º- Leitura do livro ‘Empreendedorismo Consciente’. Obra que retrata casos brasileiros.
Para aos que desejam fazer parte do movimento, a dica é acessar o site do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e clicar na aba Associe-se e no banner Embaixador I (pessoa física). A adesão é gratuita e o associado (a) terá acesso a todos os conteúdos sobre o tema, agenda dos fóruns e outros eventos, e ainda terá descontos na compra de livro.
Saiba mais
Instituto Capitalismo Consciente Brasil Instagram: @capitalismoconscientebrasil
Filial Capitalismo Consciente Cuiabá – Instagram: @cc_mt_cuiaba
Carta aberta referente aos ataques do dia 8 de janeiro de 2023
Agenda dos Fóruns Regionais (III Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente)
BBF Brasil é um site independente de conteúdo criativo e de jornalismo.